A luz azul da tela dos celulares e computadores é mesmo perigosa para os olhos?
Telefones celulares, tablets e computadores são equipamentos presentes em nosso dia-a-dia já há alguns anos. Estamos tão acostumados com eles que não nos questionamos os riscos de seu uso. Pesquisam mostram que eles não são inócuos.
Brasileiros somos famosos pelo apreço à tecnologias e aparelhos eletrônicos. Costumamos nos divertir com as novidades tecnológicas como nenhum outro povo no mundo. E a revolução dos smartphones nos acertou em cheio. Atualmente (2018) temos 210 milhões de pessoas no país e mais de 300 milhões de dispositivos em uso. Só celulares são 220 milhões (Brasil já tem mais de um smartphone ativo por habitante, diz estudo da FGV).
Junto com isso, vem o aumento do tempo diário em contato com laptops, celulares e tablets. O brasileiro fica, em média, (pasmem!) quase cinco horas por dia em frente ao celular! Somos os campeões mundiais em tempo de uso destes aparelhos, muito à frente do segundo colocado, a China, com três horas de uso diário (Smartphone Addiction Tightens Its Global Grip).
Obviamente que este tempo todo em contato tão próximo com essas telas não é inócuo e aqui vamos discutir um aspecto bastante importante para a saúde, a famosa e temida “luz azul” emitida por essas telas.
O que é a luz azul das telas de celulares?
Vocês já devem ter notado que algumas vezes produtos de higiene pessoal que prometem clarear os dentes ou cabelos possuem a coloração azul (pastas de dentes ou shampoos para cabelos loiros são exemplos). Isso porque até certo ponto a mistura da cor azul nos remete à interpretação do branco.
Em telas de dispositivos eletrônicos não é diferente. É a luz azul intensa que nos permite ver os detalhes das imagens da tela no meio da rua em um dia de sol.
Mas a luz azul não é sempre perigosa, ela é importante porque nos indica que é dia e modifica nosso padrão de liberação de alguns hormônios que nos faze acordar e estar dispostos para enfrentar um novo dia. O problema é o excesso de luz azul sendo emitida de um aparelho tão próximo de nossos olhos, especialmente quando o dia e a luz natural do sol já se acabou.
A luz azul dos celulares é mesmo perigosa para os olhos?
Na ciência médica costumamos nos valer do princípio da precaução que diz mais ou menos o seguinte: Se algo desconhecido apresenta qualquer indício (mesmo que ainda não comprovado) de risco à saúde, evite sua exposição até que tenhamos o conhecimento para garantir sua segurança.
Por se tratar de algo razoavelmente novo em nossas vidas, ainda não temos informação robusta para afirmar com segurança que estes dispositivos são prejudiciais e em que nível, por outro lado, há estudos sérios que demonstram haver riscos de lesão irreversível ao cristalino e à retina, por isso vale o princípio da precaução, se há suspeita de risco, melhor usar com cuidado para evitar problemas que poderão ser definitivos no futuro.
Quais os riscos da luz azul para os olhos?
Como já dissemos, este tema é muito recente e ainda não tivemos tempo suficiente de exposição às telas dos celulares e tablets em nossas vidas para afirmarmos com certeza quais os riscos associados ao seu uso.
O que já sabemos, aí no campo da neuroendocrinologia é que a exposição à luz azul sinaliza para o cérebro que ainda é dia e atrapalha a produção e liberação de um dos hormônios mais importantes para a regulação do sono, a melatonina.
Já no que diz respeito à saúde dos olhos, algumas pesquisas apontam para riscos de consequências graves para a visão.
Um estudo recente (Blue light excited retinal intercepts cellular signaling), publicado em uma revista científica internacional importante, apresenta resultados preocupantes com relação à exposição das células sensíveis à luz de nossas retinas à luz azul.
Neste estudo pesquisadores de uma universidade americana demonstraram que a interação da luz azul com um componente (o retinal) presente nas células da retina desencadeando uma reação em cascata que culmina na produção de substâncias tóxicas na célula que podem ocasionar sua morte e levando ao desenvolvimento de um quadro de degeneração macular.
Lembrando que as células de nossas retinas são derivadas de progenitoras neurais, ou seja, são basicamente neurônios e sabemos que neurônios adultos não são capazes de se dividir, por isso sua capacidade regenerativa é virtualmente nula e uma vez estabelecido o dano é permanente.
Importante ressaltar que os achados deste estudo apontam para uma relação entre a intensidade da luz e o dano causado, com menor intensidade causando menos dano. Desta forma, acende-se uma luz de alerta para aqueles que utilizam em excesso esses dispositivos.
O que fazer para proteger meus olhos da luz azul?
Bem, a primeira atitude a ser tomada é fazer uso racional da tecnologia. Sabemos o quanto esses aparelhos atraem nossa atenção e grudam nossos olhos em suas telas, mas devemos ser usuários conscientes e pais responsáveis. Por isso, um conselho, use conforme sua necessidade e não conforme sua vontade.
Quando o uso é inevitável, há algumas estratégias que podem ser interessantes:
- Procure usar o celular sempre com a luminosidade o mais baixa possível para o ambiente em que está. Não há a necessidade de o brilho da tela estar alto o tempo todo.
- Resista à tentação e não use o aparelho na cama. Quando estamos deitados, costumamos aproximar ainda mais o aparelho dos olhos e isso não é bom.
- Se precisar usar o celular na cama, faça isso sentado e com as luzes acessas. Luzes apagadas no ambiente naturalmente induzem a dilatação da pupila, o que permite que mais luz acesse sua retina e permanecer sentado costuma nos forçar a manter o celular um pouco mais afastado do rosto.
- Ative o filtro para luz azul. Muitos aparelhos mais recentes vêm com esta opção de fábrica e nos permite programar para que a tela emita menos luz azul a partir de um certo horário do dia. Informe-se se seu aparelho tem essa funcionalidade e se não tiver, há diversos aplicativos que podem ser instalados com essa função.
- Havendo qualquer sinal de alteração na qualidade da visão, não hesite em procurar seu oftalmologista. Lembre-se que danos à retina são quase sempre irreversíveis.
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